Um novo estudo realizado no Reino Unido revelou que o trabalho remoto e híbrido tem impacto direto no crescimento salarial dos empregados. Segundo a pesquisa, realizada por economistas das universidades britânicas University of Nottingham, University of Sheffield e King’s College London, aqueles que conseguem trabalhar de casa algumas vezes por semana registraram um crescimento salarial entre 2% e 7% mais lento do que os trabalhadores presenciais. Esse fenômeno foi identificado como uma "penalidade salarial" relacionada ao trabalho remoto. As informações são da Bloomberg.
Apesar da redução no crescimento salarial, o estudo destaca que os trabalhadores remotos ainda se beneficiam de vantagens não monetárias significativas, como a flexibilidade no trabalho e a economia com transporte e alimentação. Esses benefícios compensam, em grande parte, o crescimento salarial mais modesto. O estudo foi baseado em dados de salários de 2018 a 2023 e comparou as condições de trabalhadores remotos e não remotos.
Vantagens e desigualdades
O estudo apontou que a possibilidade de trabalhar de casa favorece grupos com maior nível de educação e melhores salários, como profissionais de áreas como consultoria e programação de software. Esses grupos são os que mais conseguem se beneficiar das vantagens do trabalho remoto. Em contrapartida, trabalhadores de setores que exigem presença física, como comércio e manufatura, continuam a ver um crescimento salarial mais significativo, como forma de compensação pela falta de flexibilidade.
Uma análise detalhada revelou que a diferença de compensação total entre trabalhadores remotos e presenciais, considerando tanto salários quanto benefícios, não gerou um aumento significativo na desigualdade entre esses grupos. De acordo com os autores do estudo, a mudança para o trabalho remoto resultou em um aumento substancial na compensação média dos trabalhadores, sem afetar negativamente a desigualdade geral.
Custos do retorno ao trabalho presencial
O retorno ao trabalho presencial também trouxe novos desafios. O estudo investigou os custos que os trabalhadores enfrentam ao voltar ao escritório, como transporte, refeições e vestuário. Em média, os trabalhadores britânicos afirmaram que estariam dispostos a abrir mão de até 8,2% de sua renda para continuar trabalhando de casa dois ou três dias por semana. Grupos como mulheres, jovens e aqueles com deslocamentos mais longos são os que mais valorizam a possibilidade de trabalho remoto.
No contexto político do Reino Unido, o trabalho flexível volta a ser um tema central. O Partido Trabalhista britânico, liderado por Keir Starmer, está propondo a expansão das leis trabalhistas para garantir que mais trabalhadores tenham acesso ao modelo de trabalho flexível, uma das promessas centrais da campanha.
A relevância do trabalho híbrido
O estudo também revelou que o trabalho híbrido, uma combinação de trabalho remoto e presencial, é um dos principais modelos adotados em cidades como Londres, onde o custo elevado e o tempo de deslocamento são barreiras significativas. Cerca de 40% dos trabalhadores de Londres que adotam esse modelo afirmam que a economia com transporte é uma das principais vantagens do trabalho remoto, superando a média de 34% registrada em outras cidades.
O impacto dessa transição no mercado de trabalho pode ser observado nos números. Londres está atrás de cidades como Paris, Cingapura e Nova York em relação à porcentagem de trabalhadores no escritório, devido, principalmente, ao alto custo e à distância do deslocamento diário.
A pesquisa reforça a ideia de que, embora o trabalho remoto seja valorizado por muitos, especialmente aqueles com empregos que permitem maior flexibilidade, o crescimento salarial e as compensações financeiras continuam mais atraentes para os que não têm essa opção. O equilíbrio entre os dois modelos pode ser um fator decisivo para as negociações futuras entre trabalhadores e empregadores, especialmente à medida que o mercado de trabalho continua a se ajustar às novas realidades pós-pandemia.
Fonte: Exame